A beleza do teatro quase centenário perde-se, em parte, nesta ‘nova realidade’. Dos 1 149 lugares, apenas 500 foram disponibilizados e somente 300 ocupados. Mas os Xutos & Pontapés estavam com ‘sede’ de voltar aos palcos. E o seu público mais fiel de os ouvir.

“A maior parte das caras que vejo são-me tão conhecidas, obrigado”, exclamou Kalú durante o espectáculo. Espectáculo esse que, no seguimento da XL Tour, não apresentou alterações demais. O concerto começou com “Duro”, prosseguiu em “Alepo”, mas foi em “Enquanto a Noite Cai” e “N’América” que os presentes se fizeram ouvir em coro pela primeira vez.
Daí até à surpresa da noite foi um pulo: “Negras como a noite”. Face ao actual contexto, seria difícil deixar este tema de fora. Mas mais difícil ainda foi tocá-lo, visto que é daqueles temas que são guiados, do início ao fim, pela guitarra de Zé Pedro. Mas os fãs não se importaram e uniram-se à banda de Tim, uma vez mais, em “Homem do Leme”, “Circo de Feras” e “Não Sou o Único”.

Na hora de abandonar o palco, as trezentas vozes presentes no teatro juntaram-se, numa apoteose e numa energia como há muito não se via num concerto de Xutos & Pontapés. Queriam mais. Apesar de assistir a um concerto eléctrico sentado não ser o mais usual ou confortável, o público estava realmente a apreciar a companhia de João Cabeleira, Kalú, Gui, Tim e Zé Pedro. “O Zé está sempre presente”, afirmou Tim à no encore. Seja em pensamento, seja nas suas guitarras gravadas, seja na escrita de letras
e músicas, como foi o caso de “À Minha Maneira”.
Seguiu-se “Contentores” e, à entrada da última faixa da noite, João Cabeleira replica o comentário de um fã, dirigindo-se ao microfone e aconselhando Tim a tomar Memofante (suplemento alimentar que ajuda a preservar a memória). Todos os presentes soltaram umas valentes gargalhadas. Tudo isto porque Tim se tinha enganado na letra das duas músicas anteriores. Mas não houve espaço para enganos em “Casinha”.

A banda quadragenária deu um concerto de puro rock n’roll, provando que este estilo de música serve a qualquer sala, em qualquer circunstância. Há que fazer jus a um facto: o som da sala da Avenida da Liberdade esteve, do início ao fim, maravilhoso. Tim apresentou-se com uma boa voz e Kalú estava verdadeiramente feliz. À saída, ficou uma certeza: os Xutos & Pontapés estão de muito boa saúde. A alegria da banda em subir ao palco e do público em vê-los foi arrepiante e comovente. Xutos & Pontapés, por que não?
Alinhamento do concerto:
- Duro
- Alepo
- Fim do Mundo
- Às Vezes
- Enquanto a Noite Cai
- N’América
- O Falcão
- Salve-se Quem Puder
- Avé Maria
- Negras Como a Noite
- Mar de Outono
- O Que Foi Não Volta a Ser
- Homem do Leme
- Circo de Feras
- Não Sou o Único
- À Minha Maneira
- Contentores
- Casinha
Diogo Santos escreve de acordo com a antiga grafia.
Xutos & Pontapés – Galeria Completa