“Collapsed in Sunbeams”, Arlo Parks | “Not Your Muse”, Celeste

SUSPEITO - PEDRO BRÁS MARQUES
Duas novas propostas no âmbito da soul e que certamente irão marcar não só 2021 como os próximos anos.

A música soul tem a particularidade se estar constantemente a reinventar. Um bom exemplo é o aparecimento da neosoul, incorporando novas sonoridades e, com isso, novas vozes. Curiosamente, a preponderância de artistas femininas é avassaladora. Desde Erikha Badu a Amy Winehouse, a lista é interminável e, agora, somam-se mais dois nomes, Arlo Parks e Celeste, com a curiosidade acrescida dos seus álbuns de estreia terem sido lançados precisamente no mesmo dia, 29 de Janeiro. Apesar disso e do tremendo buzz criado à volta de ambas, a verdade é que as semelhanças, no entanto, praticamente terminam aí.

Arlo Parks – “Collapsed In Sunbeams” – Imagem do Som
Arlo Parks | Collapsed in Sunbeams | 2021

“Collapsed in Sunbeams” é o cartão de apresentação da multifacetada Arlo Parks. Além de cantora, é poetisa e isso nota-se na qualidade das letras, muito centradas em temas queer sobre a afirmação, a identidade e a preocupação com a imagem, o que está reflectido, até, nos títulos como “Hope”, “Hurt” e “Bluish”. A melhor será, porventura, “For Violet”, onde Parks melhor expõe esses receios: “Wait, you know when college starts again you’ll manage / Wait, you know that I’ll be there to kiss the damage / Wait, you know I bought a couple books I think you’ll like / So hold on for tonight”.

Já ao nível musical, não há tanta criatividade, apostando num registo mais mainstream, bastando escutar “Caroline” ou “Black Dog” para o confirmar. Arlo Parks cita imenso os Radiohead e Thom Yorke como fontes criativas (também os Portishead, Adrianne Lenker e Joni Mitchell) mas ainda tem um longo caminho a percorrer para lá chegar. Certo é que já deu o primeiro passo, bastante firme para quem só tem 20 anos.

Celeste announces her debut album Not Your Muse
Celeste | Not Your Muse | 2021

Celeste mostra maior heterogeneidade e complexidade musicais, aproximando-se de registos mais jazzy e sofisticados, polvilhados com alguma saudável nostalgia, que a levam a ser comparada, algo exageradamente, a gente tão ilustre como Nina Simone ou Billie Hollyday.

“Not Your Muse” é um excelente disco de estreia e mostra uma cantora já com uma maturidade notável, explorando devidamente as singulares potencialidades da sua voz mas sem nunca perder aquela sensação intimista que as melhores intérpretes soul conseguem transmitir, como se estivessem a dedicar-se exclusivamente a cada um dos ouvintes… Pontos fortes são a belíssima “A Kiss” e a mais dançável e aveludada “Love is Back”, que acabam por ser uma amostra fiel de todo o álbum.

Assistimos, portanto, ao nascimento de duas novas propostas no âmbito da soul e que certamente irão marcar não só 2021 como os próximos anos. Agora, só fica a faltar a confirmação ao vivo que, espera-se, seja para breve.

Pedro Brás Marques

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