Julia Stone, “Sixty Summers”

SUSPEITO - PEDRO BRÁS MARQUES
Um disco essencialmente pop, mas sem a frescura e a criatividade que se esperava, antes engrossando o mainstream indolente e entediante que por aí se ouve .

Se há capa que, inadvertidamente, espelha na perfeição o que se vai encontrar, é esta. “Sixty Summers” é uma confusão, tornando difícil, senão impossível, perceber qual foi o objectivo de aglomerar treze canções durante cinco anos senão, simplesmente, o de as juntar num disco. O problema é que não há qualquer fio condutor entre elas, sonoro “or otherwise”…

Julia Stone | “Sixty Summers” | 2021

Lançada há dez meses, “Break” é a primeira canção e, com um pouco de “wishful thinking”, talvez o título seja um alerta para o que se segue, se tivermos em conta os pergaminhos da carreira a solo de Stone e, especialmente, da parceria com o irmão, na excelente dupla Angus & Julia Stone. E o que temos a abrir é um tema afro, com um refrão profundo e original: “Darling, darling, you take my breath away”. Depois, segue-se um desfilar de canções onde se escutam ecos de muita coisa, demasiada coisa, aliás: a vocalização de Julia no tema-título parece emular Lana del Rey, a faixa “Free” seria mais adequada à pop mainstream de Ellie Goulding e “Fire in Me” assemelha-se a um mashup de “Uprising” dos Muse com “Roadhouse Blues” dos The Doors, cantado por Allison Goldfrapp…

Chega de desencanto e olhemos para os dois temas que sobressaem da crise diabética que terá assolado a australiana: o dueto com Matt Berninger e “I Am No One”, o tema final, se descontarmos o extra duma versão francesa dum outro tema, “Dance”. Em “We All Have”, Julia Stone recorre ao mais agudo que a sua voz consegue produzir, obtendo um belíssimo contraste com o tom grave do vocalista dos The National. Uma canção arrastada, com letras melancólicas e algo existencialistas, bem ao estilo de Berninger: “Leave it alonе now, just need time”. Vamos encontrar o mesmo ambiente desencantado na última, suave e belíssima canção: “You walked me to my car, I could feel your heart beating / Was dreaming of the grace of finding someone to believe in (…) Oh, oh, what have I done? You were just a boy and I am no one…

Custa a crer que St. Vincent tenha estado presente na coprodução de “Sixty Summers”, pois o que ali se destilou é duma safra completamente distinta da sua… Este é um disco essencialmente pop, mas sem a frescura e a criatividade que se esperava, antes engrossando o mainstream indolente e entediante que por aí se ouve… Pode ser injusta, ou até inadequada, a comparação com o seu trabalho em Angus & Julia Stone, mas olhando para a carreira a solo de ambos, que gerou uma obra-prima como o disco homónimo, de 2014, valerá a pena citar aquela máxima que sentencia que “para cada McCartney tem de haver um Lennon”…

Pedro Brás Marques

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