Crumb, “Ice Melt”

SUSPEITO - PEDRO BRÁS MARQUES
Os Crumb criam música que nos convida a fechar os olhos e a deixar-nos levar para outras dimensões.

Eram quatro alunos da Universidade de Tuffs, perto de Boston, quando decidiram criar uma banda. Chamaram-lhe “Crumb”, gravaram dois EP com algum sucesso, nomeadamente o segundo, “Locket”, que ultrapassou os 50 milhões de streamings no Spotify. Seguiu-se “Jinx” em 2019, o álbum de estreia, onde expuseram a sua música, um indie pop suave, a namoriscar com algum jazz, produzindo uma sonoridade rica e aveludada, mas “nunca chill” como gostam logo de alertar. Por essa altura, em entrevista à Pitchfork, acharam que a melhor definição para o que produziam seria: “música que escutas quando estás por tua conta”… No ano passado, estavam agendados para o Festival de Paredes de Coura, que não aconteceu pelas razões que todos sabemos…

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Crumb | “Ice Melt | 2021

A verdade é que Lila, Jesse, Bri e Jonathan aproveitaram o tempo para compor novas canções que reuniram num álbum, “Ice Melt”, agora editado. Mantendo a tradição de títulos curtos, quase todos de uma só palavra, o álbum começa com a excepção colorida de “Up & Down”, onde a voz de Lial nos confessa as suas dúvidas amorosas: “We’re not the same, I’m like air you’re a flame”. Segue-se o onírico “BNR” ou “Black and Red” para chegarmos a um dos melhores temas, “Seeds”. Aí, a velocidade abranda para que os Crumb possam expressar a sua vontade de regresso ao início, à semente: “Back to where this started, Holy land, Find a way back down to the seeds”. E tal como na canção anterior, o processo de repetição de palavra faz com que “Seeds” ganhe um ar etéreo e dreamy, como se duma ‘trip’ se tratasse…

  Logo a seguir, os Crumb emergem e “head to the city” em “L.A.”. Os problemas existenciais voltam em “Gone”, onde a guitarra e a bateria como que lutam para impedir o inevitável: “Counting down the days ‘til, All her hairs turn gray”… A indefinição e a insatisfação mantêm-se em “Retreat”, com os murmúrios de “leaving, run far away, be well, You’ll find yourself”… Com “Balloon” voltam os sons mais dançáveis, até porque “Dance with me I’ll be your lover”. Após passarem “Tunnel”, os Crumb chegam à meta com a amena canção que dá nome ao álbum e onde criaram um ambiente de latente melancolia: “Pour the ice melt, watch it steam, Is it like magic or a dream?”

Para que o gelo derreta é necessário calor, como todos sabemos. Os Crumb não o servem em tochas ou fogueiras, antes em fontes temperadas, que permitam assistir à lenta passagem dum estado a outro, tal qual o que propõem que aconteça ao ouvinte da sua música: que feche os olhos e se deixe levar para outras dimensões…

Pedro Brás Marques

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