As expectativas eram altíssimas para um dos dias que mais ansiava.
Gator, The Alligator foram os primeiros a pisar o palco (secundário), com a sua energia acessível a motivar uma reação mais positiva do que esperava. No entanto, e naquilo que se revelou como uma das recorrências mais inconvenientes do festival, aquando do início da atuação de MEMA, claramente um registo diferente, o som do concerto da banda barcelense ainda atropelava a música da cantora, num cruzamento infeliz dos dois palcos. Apresentando temas do seu EP de estreia, Sofia Marques deu-nos a conhecer temas interessantes que pecaram pela falta de músicos no palco que lhes dessem mais vida. Mas esperemos que a jovem aveirense arranje uma banda que a acompanhe, porque a sua música tem potencial e merece ser ouvida.

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The Porridge Radio serviram-se das suas letras tristes e do seu estranhamente agradável estilo indie para um namoro breve mas de boa memória com o público de Vodafone Paredes de Coura, antes do compositor americano Alex G e a sua banda se revelarem uma surpresa encantadora. Finas e apaixonantes, as canções provaram um bom gosto, sensibilidade e criatividade assinaláveis, deixando sem dúvida a vontade de ouvir mais. Claramente um nome ao qual devemos estar atentos.

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Eram já 21.15 quando os Badbadnotgood aterraram no palco principal, prontos para conquistar a plateia com um concerto brilhante. Abriram com “Signal From The Noise“, uma música mística e desconcertante que deslumbrou a plateia como um feitiço distante. A classe dos talentosos músicos canadianos tornou-se desde logo evidente. Desde a guitarra cortante que pairava sobre o recinto em “Beside April“, ao esplendoroso solo de piano elétrico, a mestria dos instrumentistas era quase intimidadora, apesar de maravilhosa. Os constantes apontamentos extravagantes do saxofone e uma base rítmica constantemente tresloucada, a desafiar o compasso de cada canção, deixavam os mais atentos deslumbrados com a fineza de cada tema. A energia contagiante do riff hipnótico da guitarra em “Lavender” pôs toda a gente a saltar, numa das poucas vezes em que o público conseguia acompanhar os complexos ritmos jazz da banda. Um concerto fantástico que passou a correr.

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Mais tarde, subiram ao palco os britânicos Idles para protagonizar uma atuação portentosa e arrebatadora. Uma música bastou para apresentar o furacão que se preparava para deitar tudo abaixo. As guitarras raivosas de “Car Crash” conspurcavam inadvertidamente o recinto, destacando-se dos gritos demoníacos de Joe Talbot e da bateria agressiva de Jon Beavis. Uma trovoada de força e ruído atropelava a multidão sem pedir licença, enquanto berros quase guturais saíam diretamente das entranhas do vocalista natural de País de Gales para atravessarem com imponência a plateia. Uma explosão de uma energia negra e agreste que fazia todos os corações estremecer, numa catarse caótica destruída e destruidora.
Cheia de personalidade e absolutamente avassaladora, a banda brindou o público com êxitos como “Danny Nedelko” e “Mother“, terminando um concerto espetacular com o final mais estrondoso imaginável (“Rotweiller“).

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E foi numa das transições mais inconcebíveis possíveis que passamos da dureza crua e violenta de Idles para a eletrónica dreamy e fantasiosa de Beach House. Canções como “Lazuli“, “Modern Love Stories” e “Dark Spring” soaram simplesmente lindas. Os sintetizadores soavam cada vez melhor ao longo do concerto. Ambientes aconchegantes que não eram menos que mágicos aliavam-se à emotividade de cada canção e levavam-nos ao céu de forma enternecedora.
A natureza etérea da beleza de cada harmonia, cada som e cada melodia evoluíam como um calor intrigante que nos balançava de forma cíclica o coração. Um embalo terno e eterno que aquecia a noite fria. Não era preciso perceber como nem porquê, só saber que estávamos bem entregues se fechássemos os olhos e deixássemos que nos roubassem a alma por aquele bocadinho. Afinal de contas, o destino era o paraíso.
E claro que não podia escapar o lendário clássico “Space Song“, guardada para o fim do concerto. As luzes tímidas de telemóveis e lanternas contrastavam com o escuro da noite e formavam uma paisagem linda de calma e amor. Difícil imaginar melhor despedida, neste segundo dia do festival. Lindo, lindo, lindo.
TEXTO: Lucas Castro
FOTOS: Ana Ribeiro