Oliver Sim, “Hideous Bastard”

SUSPEITO - PEDRO BRÁS MARQUES

Álbum de estreia para o baixista e vocalista dos The XX, produzido pelo seu companheiro de banda, Jamie XX. Questões de afirmação e de masculinidade, além das memórias cinematográficas de filmes de terror são as temáticas que Oliver Sim trabalhou musicalmente durante dois anos.

Para as primeiras foi buscar Jimmy Sommerville, a quem chama de “anjo da guarda” e com quem fez o dueto de abertura, precisamente a suave e electrónica “Hideous”: “I’m ugly, I’m up and down right now, I’m down and bloody, But I don’t feel as though I’ve been unlucky, I have people in my life that really love me”. Não terá sido inocente este ressuscitar do vocalista dos The Communards e, principalmente, dos precedentes Brosnki Beat, uma vez que, nesta banda, Sommerville foi o responsável por “Smalltown Boy”, um hit e um verdadeiro hino gay no início da década de 80 do século passado, cuja letra não era mais do que o lamento dum rapaz homossexual (o próprio Sommerville) pela ostracização a que era votado na pequena cidade onde vivia. Estava integrado no álbum “The Age of Consent”, título que aludia à idade legal a partir da qual se poderia ter relações homossexuais. Há algum eco de toda esta vivência “inocente” na terceira faixa, “Sensitive Child”, com os receios de se expor perante a pessoa amada (“I can hear it in your voice, From my upstairs room”), surgindo a desilusão quando tal finalmente acontece: “You’re not the person I know”.

Mas se o álbum começa com “Hideous”, continua com “Handsome, I’d only wanted to feel handsome…” em “Romance of a Memory”, num ritmo arrastado, mais cinematográfico, concluindo que “I’m let down by reality”…  Segue-se a confessional e dançável, “Never Here” e onde Oliver Sim grita “pela primeira vez”, algo que achou “libertador“. Nos curtos dois ambientais minutos de “Unreliable Narrator” há tempo para reafirmar a falta de confiança, já que “I tried hard to be authentic”… O tom continua calmo em “Saccharine”, elevando-se ligeiramente em “Confident Man” até se chegar à dançável e onírica “GMT”, embora a temática pessoal permaneça a mesma: “Someone decided to save my life, pink and blue, pink and blue”. A penúltima proposta é “Fruit” já revelada previamente em single, que é, basicamente, uma canção sobre ser “drag”, embora convenha não ser “Far too femme”. O álbum encerra com a mais upbeat Run the Credits”, onde Oliver homenageia o cinema, em especial o de terror: “Staring up at the silver screen, Sold me the lie of the teenage dream, Disney princes, my God I hate them, I’m Buffalo Bill, I’m Patrick Bateman”.

Um belo álbum de estreia, com uma sonoridade que ora opta por um tom mais dançável, ora por uma toada mais leve e delicada, onde a eletrónica, naturalmente, está sempre em destaque, bem como a sua voz. Sim, por vezes, evoca o projecto-mãe, os The XX, mas não há mal algum nisso. Muito pelo contrário.

Pedro Brás Marques

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