Amplifest 2022 – FDS1 (7, 8 e 9 novembro 2022)

Reportagem do primeiro fim de semana do Amplifest 2022.
Amplifest 2022 – FDS1 (7, 8 e 9 novembro 2022)

Após dois anos de interregno devido à pandemia, a expectativa para o regresso do mítico e tão aguardado Amplifest 2022 no Hard Club, na cidade do Porto era enorme, e sentia-se à medida que os amplifesters iam chegando para o primeiro dia do festival.

FDS1 – 07 de novembro de 2022:

Como é hábito, existe sempre uma banda surpresa no cartaz, à qual coube a honra de iniciar os concertos do Amplifest 2022, sendo a primeira banda a pisar o palco do Bürostage. Não sabendo o que esperar, a não ser a certeza de qualidade, o publico foi preenchendo a sala e aguardado, curioso.

A.A. Williams foi a atuação surpresa, e que surpresa fantástica. Vinda de Londres e dona de uma voz de veludo, conjugada com riffs de guitarra poderosos, esta cantora, compositora e instrumentista, deliciou os amplifesters apresentando as músicas do seu mais recente trabalho cuja data de lançamento foi precisamente nesta data.

Com os concertos alternando entre o Bürostage e o Beerfreaks Stage, fomos vivenciando experiências completamente distintas umas das outras, sim, porque é nisso que este festival é uma experiência transcendental.

Jo Quail trouxe ao Beerfreaks Stage a mestria eloquente que tem no violoncelo, combinada com técnicas inovadores de looping que tornam a sua música única e de uma complexidade maravilhosa, que fez com que o público e a artista se fundissem num só.

Os Process of Guilt, senhores lusitanos de uma sonoridade e expressão musical incomparável, apresentaram no Bürostage o seu novo álbum “Slaves Beneath the Sun“. Mostraram que, após 20 anos de existência, são cada vez mais uns visionários sem igual, com a sua música, no panorama musical underground português e europeu.

No Beerfreaks Stage pudemos assistir aos Vile Creature, banda canadense de doom metal experimental de Hamilton, Ontário, que chegou ao palco algo emotiva pela perda recente de uma amiga muito querida e pela forma carinhosa como foi acolhida pela família do Amplifest. Presentearam-nos com a sua música poderosa e cheia de riffs crus e fortes, acompanhados por uma bateria que enchia completamente a sala, e vozes que pareciam libertar todos os demónios interiores.


Um dos mais aguardados nomes do cartaz eram os belgas Amenra, que apesar da contrariedade que sofreram com a indisponibilidade do baixista Tim a recuperar de uma cirurgia, apresentaram-se no palco Bürostage num formato acústico. Num registo mais intimista, mas com uma energia enorme, tanto da parte da banda como do público, esta banda considerada “da casa” iniciou a atuação com o último single Black Crown Blues” e foi recebida apoteoticamente.

Posteriormente, no Beerfreaks Stage entramos noutra dimensão com Midwife. Uma artista multi-instumentalista que aprendeu sozinha a tocar guitarra e que descreve a sua música como “heaven metal” (metal do céu), um misto intimista e hipnótico de shoegaze. Mal o concerto começou sentiu-se o público a levitar numa atmosfera diferente e catártica, levado pela sua voz doce, guitarra hipnótica e sintetizadores/processadores exuberantes que, numa junção tão bem conseguida, abriu um portal para uma realidade alternativa.

Midwife | Foto © Teresa Mesquista (Imagem do Som)

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Um dos momentos mais entusiasmantes foi a atuação dos Dälek, no palco Bürostage. Este veterano grupo de hip-hop experimental trouxe o seu mais recente trabalho, “Precipite“, e pode-se dizer que acabou por ser a atuação do dia, se é que neste festival isso é aplicável. Uma sonoridade que cruza alguns estilos, como o industrial puro e agressivo, com samples gélidos e crus, com um hip-hop frontal com rimas fortes e palavras contra o sistema, tudo envolto numa sonoridade arrojada que não deixa ninguém indiferente.

Dälek | Foto © Teresa Mesquista (Imagem do Som)

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Por fim antes do DJ Set Bürocratik tivemos no Beerfreaks Stage os Prision Religion, com um som extremo feito rimas gritadas, ruído abrasivo e beats industriais. Este duo norte americano vindo de Richmond, Virgínia trouxe-nos o seu último trabalho “Hard Industrial Bop” e não deixou o seu critério por mãos alheias, com mensagens fortes e agressivas a espelhar o caos em que o mundo se encontra.

Prision Religion | Foto © Teresa Mesquista (Imagem do Som)

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FDS1 – 08 de novembro de 2022:

No segundo dia os amplifesters pareceram ser em maior numero do que na véspera.

Uma das apresentações mais aguardadas foi dos Oranssi Pazuzu, banda finlandesa de black metal psicadélico, para a qual já existiam amplifesters a marcar lugar em frente ao palco Bürostage na altura do sound-check. Apoiados no seu mais recente trabalho, o 5º álbum “Mestarin Kynsi” de 2020, os Oranssi Pazuzu trouxeram os seus sons psicadélicos em tonalidades que evoluem de sonoridades obscuras e paranoicas para onde o oculto encontra uma realidade turbulenta e preocupante. Muito intensos.

Oranssi Pazzuzu | Foto © Teresa Mesquista (Imagem do Som)

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Um pouco antes, no Beerfreaks Stage fomos levados a recuar no tempo. No palco, o ambiente parecia saído de uma casa portuguesa comum dos anos 80: uma televisão antiga, um candeeiro de pé com um abajour do tempo das nossas avós, uma tonalidade vintage. Na audiência sentia-se a curiosidade de quem desconhecia o trabalho de O Gajo. Eis que entra João Morais e, sem mais demora, pega numa das suas violas campaniças e leva o público a passear por entre planícies alentejanas e por uma Lisboa algo invulgar, com o som único que consegue tirar deste instrumento tradicional que faz parte da história centenária e cultural portuguesa. Foi devido a esta viola campaniça que surgiu o projeto O Gajo, que esteve presente pela primeira vez no Amplifest.

O Gajo | Foto © Teresa Mesquista (Imagem do Som)

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Neste segundo dia temos de falar também dos Brutus que atuando no Bürostage deram um grande concerto neste Amplifest, em mais uma enchente neste palco, onde a energia contagiante de Stefanie Mannaerts (vocalista e baterista) foi uma constante do início ao fim do set. Este trio belga de sonoridade póst-hardcore veio também dar-nos a conhecer algumas das músicas que farão parte do seu próximo álbum com lançamento previsto para breve, “Unison Life“.

Brutus | Foto © Teresa Mesquista (Imagem do Som)

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Durante a tarde, e com o seu hardcore metal puro e duro numa órbita livre que mistura outros registos pesados e progressivos e com flashes rítmicos de inspiração latina, os Irist trouxeram na bagagem o mais recente EP “Gloria“. Poderoso, o quarteto de Atlanta levou ao rubro a sala Beerfreaks Stage completamente cheia.

Anteriormente pudemos assistir aos Elder, banda de rock pesado progressivo que funde sons psicadélicos com sons de ambientes paisagísticos, original de Massachusetts mas sediada em Berlim. o seu som muito característico ocupou o Bürostage do Amplifest a meio da tarde, levando à enchente da sala.

Ao iniciar o segundo dia tivemos a atuação dos Pallbearer que trouxeram do Arkansas ao palco Bürostage o seu intenso doom metal fazendo antever um segundo dia de Amplifest mais poderoso.

Não menos intensos estiveram os Telepathy no Beerfreaks Stage, banda originária do Reino Unido, que nos presenteou com um som algo cinematográfico do seu post-metal atmosférico.

Para fechar o dia, e antes do DJ Set SWR vs Vagos Metal Fest, tivemos o Putan Club uma das bandas mais acarinhadas do Amplifest, no Bürostage. Uma revolução em palco, este duo franco-italiano que mistura imensos géneros musicais, afirma o feminismo, a eletricidade, a eletrónica e a selvageria, groove e alta tensão, transe, dança e desafio. Nada melhor do que pegar nas palavras dos próprios para definir o que foi o concerto: “O Putan Club não pertence a nenhuma igreja (rock, tecno, jazz, avant ou o que quer que seja), mas pode ser tudo isto“.

Um pouco antes, no Beerfreaks Stage tivemos os Fotocrime, um projeto do Ryan Michael Patterson que trouxe o seu último álbum, “Heart of Crime” para nos dar a conhecer ao vivo o seu som único.

FDS1 – 09 de novembro de 2022:

No terceiro e último dia do FDS1 do Amplifest a banda mais aguardada eram os suecos Cult of Luna, que trouxeram na bagagem o seu último trabalho intitulado “The Long Road North”. A alta expectativa não saiu gorada com a banda, que é já uma presença assídua no Amplifest, a fazer jus ao seu estilo post-metal contemporâneo, e a proporcionar ao publico no Bürostage o concerto do dia.

Um dos nomes do terceiro dia que temos de falar são os Wolves in the Trone Room, uma banda norte americana de black metal atmosférico. No palco Bürostage, a banda criou na sala um ambiente noctívago e obscuro com o seu som característico, emanado das profundezas.

No palco Beerfreaks Stage tivemos o Patrick Walker que, munido apenas de guitarra e voz, trouxe toda a emoção e intensidade que as suas músicas transmitem.

Prestes a laçarem o seu novo trabalho, “Gris Klein”, os Birds in Row apresentaram algumas músicas novas no palco Bürostage, mostrando que o punk-hardcore é um estilo que tem evoluído muito, e ao qual fazem justiça na perfeição.

Também no Bürostage tivemos a banda norte-americana de post-rock e rock instrumental, Caspian, vinda de Massachusetts, que com a sua sonoridade mista entre o instrumental paisagístico e o rasgar das guitarras com uma batida poderosa nos projetou para uma viagem eclética.

Fixem este nome, Clothilde, uma das compositoras de música electrónica mais intrigantes da cena portuguesa. apresentou-se no Beerfreaks Stage com as suas máquinas e sintetizadores modulares criando um ambiente sonoro de grande nível. Sofia Mestre é Clothilde, criadora de sons cinematográficos que nos levam aos lugares mais longínquos.

Continuando no palco Beerfreaks Stage, pudemos assistir ao scremo e crust punk dos espanhois Tenue que mostraram que no país vizinho também se encontra qualidade.

Para fechar o último dia do FDS1 deste Amplifest 2022 a nível de concertos, e antes do Dj Set Iberian Barbarians, tivemos a cantora e compositora sueco-norueguesa Karin Park no Beerfreaks Stage. Com o seu estilo que mistura a synthpop, o industrial, o indie-rock e a eletrónica, veio mostrar aos amplifesters o seu último trabalho “Private Collection“. Com a voz colocada e com tons de lírico deliciou a assistência. Fechou com chave de ouro o primeiro fim de semana (FDS1) do Amplifest 2022.

FOTOS: Teresa Mesquita

TEXTO: Filipe Dias

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