A Bazuuca faz quatro anos. Quatro anos de promoção de espetáculos, na procura de reanimar a cena musical em Braga. Quatro anos depois, o “homem da Bazuuca”, João Pereira, olha para a cidade com enorme orgulho, pelo movimento de rock que se vive na cidade e por já não viver no “tédio”.

A Imagem do Som conversou com o promotor sobre a festa de aniversário da Bazuuca, que se vai realizar no dia 25 de maio, no Lustre. João Pereira teceu ainda rasgados elogios ao espaço, às suas bandas que vão andar pelos festivais de verão e prevê um verão cheio de trabalho.

No dia 25, o Lustre vai receber os Gator, The Alligator, os Cosmic Mass e os No I on. João Pereira só espera agora que a festa seja “brutal”.

Imagem do Som (IdS): Quatro anos de Bazuuca. Em entrevistas anteriores, pouco tempo depois de começares, disseste que entraste no agenciamento de bandas porque estavas “farto do tédio que estava instalado em Braga”. Quatro anos depois, achas que conseguiste mudar essa cena de “tédio”?

João Pereira: Isso já nem foi quando comecei a Bazuuca, foi antes, quando tinha a “Xérifes e Cáboys”, em 2012. Mas pronto, hoje em dia isto está muito melhor do que estava desde 2012 e mesmo de há quatro anos para cá, mais ou menos. Abrem uns espaços, fecham outros, o gnration e o Theatro Circo mantêm-se, agora há o Altice Fórum Braga, o Sé La Vie deixou de ter concertos… Entretanto surgiu o Lustre e está a complementar este vazio que havia para ter, por exemplo, as bandas mais emergentes e outro tipo de programação que tanto o gnration como o Theatro Circo às vezes não conseguem.

Mas isto melhorou bastante, já não há aquele tédio… Eu disse “tédio” e era mesmo nisso. Na altura, só mesmo o Theatro Circo tinha uma programação que não era muito regular, não tinha muitos concertos. Mas agora os espaços estão a trabalhar nesse sentido. Braga está com força.

 

Mas direcionando mais a questão para Bazuuca e para ti. Tiveste as Noites Bazuuca no ano passado, voltaste à Rádio Universitária do Minho para fazer o “Português Suave”… Achas que estas atividades contribuíram para fazer mais concertos e mais bandas cá?

Eu acho que sim, principalmente quando fiz as várias Noites Bazuuca, tínhamos um, dois concertos por mês. Agora, com o Lustre, ali março e abril tivemos cinco ou seis noites com concertos. Portanto acho que estou bem (risos).

 

É para manter essa regularidade de concertos?

Sim, enquanto os espaços quiserem. Como te disse, o Lustre mostrou-se recetivo a receber lá concertos com regularidade, fizemos esta primeira fase de concertos em março e abril, agora vem a festa do aniversário da Bazuuca… Depois vamos fazer uma pausa por uma questão de tempo, vem aí o verão e há muita coisa a acontecer. Mas depois em setembro e outubro regressamos com os concertos.

 

Este ano já trouxeste, por exemplo, PZ e Conjunto Corona. Tiveste o evento na Noite dos Reis também cheia de bandas. Quais são os próximos eventos?

Depois do aniversário da Bazuuca, vou-me centrar no Braga Music Week, que se vai realizar de 27 de setembro a 5 de outubro. E pronto, estes meses de verão serão todos focados na Braga Music Week, porque são nove dias e é muita coisa para tratar.

Pode ler a reportagem do concerto dos Conjunto Corona no Lustre aqui.

Vamos às bandas. Tens nove bandas agendadas por ti, algumas delas como os Grandfather’s House e os Bed Legs vão ao Super Bock Super Rock e ao Paredes de Coura, respetivamente. Para se perceber um bocadinho este papel do agente, conta-nos um bocadinho sobre como é que é o processo de começarem a trabalhar contigo até pisarem estes palcos.

É uma sensação brutal, porque eu sinto-me quase como um pai deles no meu papel de agente. Por isso é que costumo chamar de “família” às bandas. É brutal.

Eu não trabalho com os Grandfather’s House desde início, mas nestes últimos dois anos eles cresceram bastante. Não costumo dizer que é fruto do meu trabalho, é muito fruto do trabalho das bandas, da disponibilidade delas e da forma como elas querem crescer. E o crescimento dos Grandfather’s House sem dúvida que tem sido brutal. Principalmente nestes últimos dois anos, em que eles fizeram duas tours europeias, tocaram em Paredes de Coura, já fizeram grandes palcos e espaços importantes, vão agora tocar no Super Bock Super Rock. É quase como uma prenda pelo esforço que têm vindo a demonstrar ao longo destes anos.

Os Grandfather’s House tornaram-se em 2018 na primeira banda agenciada pela Bazuuca a pisar o palco principal do Paredes de Coura. Foto: Hélio Carvalho/ComUM

No caso dos Bed Legs, também não os acompanho desde início, que eles já tinham um EP editado, mas foi a primeira banda com quem eu comecei a trabalhar. E os Bed Legs ganham público a cada concerto que dão. O facto de irem tocar ao palco principal do Paredes de Coura é um orgulho enorme. Lembro-me que fiquei muito orgulhoso quando eles tocaram no palco secundário, aliás, eles foram tocar no palco secundário tínhamos começado a trabalhar há meio ano, nem isso. Nós fechamos o concerto para o Paredes de Coura no palco secundário na apresentação do disco de estreia, do “Black Bottle” em Braga, foi o primeiro concerto que eles deram de apresentação do disco. E agora eles voltarem a Paredes de Coura e tocaram no palco principal é brutal.

Depois temos os Quadra, que também estão a aparecer agora. É curioso que num curto espaço de tempo lançaram já um EP e dois discos. O Palas também criou este novo projeto, depois de Smix Smox Smux e de Máquina Del Amor, também tem aparecido bastante. Ainda há pouco atuou com os Bed Legs no Theatro Circo e foi uma noite de casa cheia, foi brutal. Também tem mais alguns concertos para o verão. E depois quanto às outras bandas, algumas estão em fase de gravação de disco.

 

Falas com grande orgulho destas bandas e dos projetos delas. É esse o objetivo, ir a festivais de verão e grandes palcos e tentar pôr estas bandas lá?

O objetivo é ter esta malta a tocar o maior número de concertos com as melhores condições possíveis e, claro, atingir os grandes palcos, mas isso também é um objetivo delas. É uma montra brutal e parte do crescimento das bandas passa por aí.

 

Quem concretiza a relação com a Bazuuca e contigo? São as bandas que se aproximam de ti ou és tu que pensas “ok, esta banda é porreira, vou tentar agenciar esta banda”?

Olha, curioso que todas as bandas com quem trabalho, foram elas que vieram falar comigo para as agenciar. Tanto é que há dois anos trabalhava com quatro ou cinco bandas e disse que não queria agenciar mais bandas. Era um trabalho brutal e o facto de ter mais bandas poderia implicar não fazer um trabalho rentável. E desde o ano passado, trabalho com nove bandas. A cena foi crescendo.

Mas assim permite-me também continuar a ter todos os anos bandas nos mesmos festivais. Permite-me ter contacto com a malta dos festivais e que um gajo cria amizades novas todos os anos. Dou-te o exemplo do Quintanilha, do Souto Rock, Rodellus, Paredes de Coura…

Para a quarta edição do Rodellus, que se realiza em julho, já estão anunciados os Quadra, uma banda debaixo da alçada da Bazuuca. Foto: Hélio Carvalho/ComUM

Pá, permite-me estar todos os anos em contacto com essa malta e é bom sentir isso. Gosto muito, por exemplo, do Souto Rock. Para mim aquela malta é brutal, o festival é magnífico e insisto todos os anos em ter lá uma banda. Enquanto puder ter lá bandas, para mim é ótimo.

E isto também se deve ao facto de as bandas estarem todos os anos a lançar discos novos. De dois em dois anos, os Bed Legs e os Grandfather’s House lançam discos novos, os Quadra o ano passado lançaram o “Cacau“, este ano já lançaram o “Chili“. O Palas lançou o EP de estreia em outubro, este mês lançou um EP novo. Os Máquina Del Amor também estão a preparar trabalho novo; os This Penguin Can Fly também editaram um disco há dois anos e vão agora gravar um disco novo no final do ano.

Para além destas bandas, sempre que posso consigo colocar uma ou outra num outro evento. Se alguma das bandas não pode e se me contactam, dizem “preciso de uma banda assim e assim”, se houver indisponibilidade de alguma das minhas, falo com outras amigas. Não temos uma relação profissional, não há aquela exclusividade, mas sempre que posso dou uma ajuda.

“Estou aberto a mais bandas porque já percebi que não vou andar a fechar portas”

Disseste que, quando tinhas cinco bandas, não querias mais. Não achavas que o trabalho seria rentável. Agora tens nove. É o número ideal? Se alguma banda te abordasse, aceitarias?

Estou aberto a mais porque já percebi que não vou andar a fechar portas. Se for uma banda que eu acho que realmente tem potencial, sim, claro.

 

Quando é que a Bazuuca vai precisar de mais ajuda em termos de recursos humanos?

Claro que preciso de ajuda, já ando a dizer isso há bastante tempo. Só que também é a cena de… ainda não encontrei a pessoa ideal para fazer isso. E porque isto não é uma questão de dinheiro, percebes? Eu não posso estar a dizer a alguém para trabalhar comigo, a dizer “olha, vais ganhar x ou y”, porque isso não existe. Há meses em que “ok”, mas não dá para viver, percebes? Não dá para viver do agenciamento e da organização de concertos, porque nem todos os concertos correm bem e nem todos os meses as bandas tocam o suficiente para que eu consiga ter um ordenado.

Passa um bocado por aí, mas há algo mais importante que isso. É que eu não vejo assim alguém com um perfil… A Bazuuca foi uma cena que eu criei, uma cena minha, e é por amor à camisola, por amor ao que faço, eu gosto mesmo do que estou a fazer. Por isso, se houver meses em que não ganho dinheiro, pá, sou eu, é uma cena minha. Agora, passar isso para outra pessoa, parece-me mais complicado. Claro, se encontrar uma pessoa com um perfil que eu diga “tu curtes mesmo isto e serás uma mais valia para mim e para as bandas”, falo com essa pessoa.

 

Para já, tens mais bandas no Norte e agencias essas bandas em concertos um pouco por todo o país. Está aberta a possibilidade de bandas fora do espetro de Braga e, mais tarde, fora do espetro português?

Várias vezes sou contactado por bandas de fora, já aconteceu. Por bandas de Lisboa, bandas do Porto… Bandas de vários sítios que já falaram comigo sobre a possibilidade os agenciar. A questão aqui é a comunicação, percebes? Eu gosto de falar cara-a-cara com as bandas, marcar reuniões com regularidade, de traçarmos objetivos, de traçarmos tudo isso. Começar com uma banda de Lisboa, por exemplo, já implica que…

Que se faça por telefone.

Pois, que a comunicação se perca bastante. E depois, por exemplo, naquelas alturas em que não está a correr tão bem, pode gerar aquela desconfiança, em que podem pensar que estou a fazer um mau trabalho ou que não me estou a esforçar por eles. Explicares isso por telefone não é a mesma coisa que marcares uma reunião e explicares “olha, está a acontecer isto, isto e isto”. É mais por aí. Obviamente que há bandas que eu gosto muito de Lisboa, bandas que gosto muito de vários sítios e que teria todo o gosto em trabalhar com elas, mas a parte da comunicação para mim é bastante importante e tem de haver, e tem que ser cara-a-cara.

 

A grande noite é dia 25 de maio, no Lustre. Quem vai?

Vai Cosmic Mass, Gator, The Alligator e No I on.

 

Há alguma surpresa preparada?

Não, eu quero é que o pessoal apareça e curta. Eu gosto das três bandas, acho que têm potencial para crescer e os concertos deles são mesmo energéticos e mesmo fixes, é mesmo em modo de festa, que é o que eu quero para esta noite. E mais que isto: sempre gostei muito de fazer concertos de bandas novas. Aqui no Sé La Vie aconteceu sempre isso, foi sempre essa a minha aposta. Mesmo no Braga Music Week temos muitas bandas novas. E para este aniversário queria mesmo isto, dar a conhecer bandas mais recentes que não têm tanto nome, como o caso do PZ, que esteve aqui, como o caso dos Twist Connection. E quero lançar este desafio ao público, que é “bora aí curtir um aniversário bem fixe, com bandas novas mas bandas que têm potencial enorme para crescer e que sabem fazer a festa”.

 

Quais são os objetivos até ao quinto aniversário?

É continuar a trabalhar e espero continuar a gostar disto como gostei até aqui. Espero que as bandas com quem trabalho cresçam ainda mais, espero poder dar-lhes essa oportunidade, poder organizar ainda mais eventos. Mesmo na Braga Music Week, espero conseguir melhores condições e oferecer a diversidade que temos oferecido ao longo dos anos. E criar mais eventos de uma escala maior, não só estes eventos mais esporádicos, mas criar aí umas marcas boas.

Porque, por exemplo, o Lustre tem um jardim brutal para fazer lá um evento. Este ano ainda não vamos conseguir, mas para o ano, se calhar, talvez dê para acontecer. E espero voltar a fazer uma coisa como a primeira Noite dos Reis da Bazuuca, que foi uma cena que para mim serviu para marcar este momento que a cidade vive, que é um momento que tem muitas bandas a aparecer. Fiz um evento com as nove bandas que agencio, mas podia ter mais nove bandas com qualidade também a tocar no evento, percebes? Espero voltar a fazer a Noite dos Reis da Bazuuca, mas num formato diferente, com outras bandas, porque não quero que seja igual ao que foi, apesar de ter sido uma noite brutal. Não quer dizer que se fizer a mesma coisa para o ano, nem é isso que eu quero, que vá correr de igual forma. Mas a verdade é que, ao fim dessa noite, toda a gente estava a pedir para fazer aquilo mais vezes. Mas tenho de pensar noutro registo para o próximo ano.

Finalmente encontrei este espaço, o Lustre, encontramo-nos um ao outro e a abertura por parte do dono tem sido impecável em todos os momentos. E se aparecerem mais espaços, também era fixe.

 

O mote desta conversa tem sido o movimento em torno de Braga. Braga só tem mais espaço para crescer ou haverá um ponto em que a cidade vai ficar saturada?

A nível de bandas? Não, não vai ficar saturada. Está a crescer de uma forma segura. Há interesse nos jovens, há interesse na malta da música em que isto se mantenha. Por exemplo, voltando à Noite dos Reis da Bazuuca, um dos objetivos era que a malta jovem olhasse para aquele evento e percebesse este momento que a cidade está a atravessar e também criasse projetos novos. Saturar, não sei. Obviamente que não espaço para as bandas todas… Mas se não há espaço, cria-se! Só precisam é de oportunidades. Mas eu vejo que estão a aparecer aí projetos novos e isso deixa-me realmente feliz porque é impecável para a cidade que isso aconteça.

 

Foto de capa: Inês Martins/ComUM